quarta-feira, 7 de julho de 2010

A vida é como uma roda, gira sem parar

Quando ví a noticia daquela mulher que perdeu a casa no morro do Bunba e agora foi sorteada na Loteria, fiquei pensando nas voltas que a vida dar. Lembrei de um episódio que aconteceu em 1979  que vou tentar contar aqui.

Eu sai de Barra de Santana para vir estudar em Caicó em 1974, e sempre ia nas férias para casa dos meus pais, nas férias do final do ano de 1978 eu travei uma briga com meu irmão, porque ele dizia que eu queria ser melhor que os outros, e certo dia foi servido peixe no almoço mas eu não comí pra não ficar com cheiro de peixe já que não tinha sabonete para lavar as mãos depois, então ele sujou bem as mãos dele e esfregou na minha cara com muita raiva, eu virei louca, e me agarrei com ele, até que minha avó chegou e separou.
Depois disso, eu chorando me ajoelhei no chão no meio do muro e pedi a Deus que me desse um emprego de qualquer coisa, podia ser de doméstica ou o que ele quizesse me dar, mas nunca mais me deixasse ir passar férias na casa dos meus pais.
As aulas começaram, eu voltei para estudar na casa da Estudante, e quando começou a se aproximar as férias eu começei a ficar preocupada, pois tinha que cumprir minha promessa e Deus ainda não tinha me atendido, mas no penultimo dia de aula aconteceu o milagre. Ainda lembro muito bem, estava deitada na cama de cima do beliche estudando para a  prova, quando  por volta de 10:00 chegou uma senhora dizendo que queria falar comigo, era Das Neves irmã de uma colega de classe minha, que eu ja tinha ido a casa dela algumas poucas vezes para estudar matemática que sempre foi o meu forte.
Eu muito assombrada, arregalei os olhos e parei na frente dela, então ela me disse, calma criatura, não é nada demais, eu vim perguntar se você quer um emprego na loja do meu esposo, eu fiquei muda, respirei e respondi QUERO, e na mesma hora já fui fazer esse teste, que deu certo. Eu só tinha medo de falar, mas era igual um animal para trabalhar.(lá eu trabalhei por sete anos) Quando cheguei contei para as amigas todo o acontecido, e rezei  agradecendo a Deus.
Quando minha mãe soube que eu estava trabalhando, me chamou e disse:  os três primeiros meses de salário você vai me dar, apartir do quarto mês você fica com a metade,(era me dar responsabilidade) tudo bem, quando eu comecei a ficar a metade do salário (mínimo) resolví comprar um relógio de pulso que sempre tive vontade de possuir mas não podia comprar, fui até uma loja vizinha a que eu trabalhava, escolhi o relógio, disse que queria e quando peguei o dinheiro da entrada a dona da loja chegou e disse que só vendia se meu patrão desse o aval, fiquei tão desconsolada que saí de lá com uma cara de quem até já morreu, mas fiquei calada, depois de uns  dois ou três dias, meu patrão me perguntou porque eu não tinha comprado o relógio, eu contei a história e ele disse que dava o aval, mas eu tinha ficado com tanta vergonha, que respondí que não queria mais, ia juntar o dinheiro e depois comprava, mas ele  telefonou para um amigo que também tinha loja e vendia relógios e disse que podia me vender que eu pagava direitinho.
Foi uma alegria só, comprei, paguei, o tempo  foi passando e por muitos anos eu nunca mais entrei naquela loja. Como a cidade é pequena todo mundo se conhece, e muitas vezes as pessoas julgam pela aparência acham que nós temos uma condição financeira muito maior do que realmente é, então eu me tornei conhecida na cidade e a mesma dona da loja que não me vendeu o relógio, começou a me telefonar oferecendo roupas, e oferecendo as melhores condições de pagamento possiveis, eu sempre dava uma desculpa,  algumas vezes dizia que  depois passava lá, mas a mágoa continuava, depois de várias vezes que ela me ofereceu, um dia eu me rendi, porque quando a gente fica maduro, e adota o nome de senhora não consegue roupa mais comportada em qualquer lugar e aqui acolá compro alguma peça, mas só compro se puder pagar à vista.
Ultimamente quando ela me liga que dou uma desculpa, ela me manda sacolas e mais sacolas cheias de roupa, para eu levar pra casa, experimentar e se quiser, comprar alguma peça, ainda ontem quando menos esperei chegou um motoqueiro com uma sacola cheia.
Foi então que começei a relembrar o acontecido, e contei esse fato para minha filha, que me respondeu com ar de indgnação: Não Acredito! E você nunca passou na cara? Não minha filha, porque a roda da vida gira sem parar e graças a Deus para mim ela sempre girou para o lado positivo e mais uma vez lhe ensinei que devemos tratar as pessoa com dignidade, porque aquele mendigo de hoje pode ser um milionário amanhã e aquela pessoa que foi desprezada hoje, podemos precisar dela amanhã. Todas as pessoas devem ser bem tratadas até quando vamos negar crédito para alguém é preciso sabedoria, para não deixar grandes magoas como essa. Mas tudo nessa vida é ensinamento, para  sermos pessoas melhores.
Obrigada Senhor, por tantas graças recebidas e te peço que  me abençoe todos os dias.

2 comentários:

  1. Mas eu ainda acho que você deveria pelo ao menos dizer a dona da loja, pois vc me ensinou a dizer a verdade, e essa verdade pode ajudá-la a não fazer isso com outras pessoas...

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  2. Olá, Dinorá.
    Fiquei muito emocionada, com seu depoimento.
    Desde, que te vi sempre achei você muito, integra, verdadeira, com o olhar de quem observa tudo e todos.
    Admiro, mais ainda agora com o que você, falou sobre sua vida, nos deixando enchegar, que Deus não dorme. Muito bonita a sua atitude, em não revidar com a mesma moeda, essa pessoa que, se deixa levar, pelas simples aparências.
    Sinto, mais orgulho ainda, saber que participo do seu convivio.
    Você, é uma pessoa muito espirituosa, humilde, integra e de coração puro.
    Que Deus, te abeçoe e esteja sempre com vocês.

    Thaís

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